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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Na vala comum do desperdício

O Jornal A folha de São Paulo publicou matéria especial no último domingo (04), sobre a situação do Canal da Batateira em Sobradinho, que nunca foi concluído. Milhões de reais jogados fora. Confira:
Uma vala de três metros de profundidade e dez metros de largura esconde, ao longo de 1,2 km do sertão baiano, mais do que pedras, arbustos espinhosos e um ou outro cabrito perdido. Hoje, serve de símbolo da corrupção.  A obra está abandonada há mais de dez anos por um leque de 27 irregularidades detectadas pelo TCU (Tribunal de Contas da União). Não fosse por elas, a vala seria um canal revestido de concreto, que levaria sertão adentro água da represa de Sobradinho, o maior lago artificial da América Latina.
Às suas margens, devidamente irrigadas, agricultores plantariam melancia, manga, goiaba. Hoje resta uma paisagem monótona, dominada por um misto de amarelo e cinza e pincelada aqui e acolá por um cacto verde. Para evitar prejuízos ainda maiores à União, o TCU recomenda todos os anos a paralisação de obras com irregularidades graves. No ano passado foram 32, incluindo 18 do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A obra de Sobradinho foi suspensa em 2001, após a descoberta de indícios de superfaturamento e pagamentos por serviços não prestados, entre outros problemas.
O projeto era construir um canal de concreto com 15 km de extensão. A água permitiria irrigar o equivalente a 4.081 campos de futebol, beneficiando 3.000 famílias. O Ministério do Meio Ambiente firmou o convênio com a Prefeitura de Sobradinho em 1995. O município contratou a construtora Gautama, que ganharia fama em 2007 ao ser alvo da Operação Navalha da Polícia Federal. Há dois anos, a CGU (Controladoria-Geral da União) cobrou de dois ex-prefeitos a devolução de R$ 64 milhões. Foi a maior cobrança já feita pelo órgão federal -mas o dinheiro ainda não foi pago. Um dos responsáveis já morreu. O outro, Luiz Berti (PTB), responde a processo na Justiça pelos supostos desvios e não foi localizado pela reportagem.

SEM PLANTAR
A última escavação da Gautama foi feita na propriedade onde Marcolino Pereira da Silva, 60, vive com a mulher e dois filhos. A família vive de uma aposentadoria de R$ 540. De dois anos para cá, Marcolino não consegue plantar mais. A água para consumo próprio vem da área urbana de Sobradinho, em tambores. Na região, a pergunta sobre a razão da paralisação da obra do canal é sempre respondida por um introdutório "o povo comenta". "O povo comenta que teve desvio de verba, né?", diz Marcolino. "Parece que não, mas isso aqui dá um prejuízo enorme para gente", afirma o agricultor Decivaldo Xavier, 49. A promessa de água o fez comprar, ainda na década de 90, um novo lote de oito hectares. Sem água, o terreno ficou inútil. O agricultor não consegue vendê-lo. Ninguém quer comprar.
Brno Costa enviado especial da Folha à Sobradinho Foto:Juca Varela Folha Press

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